quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O Segredo de Jim

Você pode relacionar a gravidez com milhares de metáforas dentro e fora do planeta Terra. Eu relaciono com o que tenho de mais latente em minha consciência, e isso envolve a forma esférica dos planetas do sistema solar e a capacidade de muitos deles de gerarem vida e mantê-las dentro de si. Até que essas vidas descobrem o irresistível poder da curiosidade e resolvem deixar sua comodidade esférica.
O que estou prestes a relatar é uma história verídica. Caso você tenha uma mente fechada o suficiente para não acreditar no desconhecido, pare exatamente neste parágrafo e não leia mais sequer uma palavra.

Ser astronauta não significa exatamente frequentar o espaço sideral semanalmente. Eu bem sei disso pois, sendo uma, nunca saí de nosso planeta. Mas Jim, meu marido, saiu. E, inexplicavelmente, deixou-me uma semana depois de retornar à Terra. Ninguém sabe o que de fato aconteceu lá em cima, mas dentro de mim acredito em alguma relação. Jim deixou-me esperando um filho seu, e por muitos meses achei que não conseguiria passar por essa fase delicada sendo uma mãe viúva.
Tudo piorou quando, em uma segunda-feira nublada e especialmente úmida, recebi uma ordem de despejo de nossa casa alugada. Aparentemente o senhorio não queria mais alugar a casa e eu tinha quatorze dias para me mudar. De acordo com a lei, ele podia fazer isso sem se justificar, e obviamente foi o que ele fez.
O único lugar que me restava como destino agora era o apartamento de minha irmã do outro lado do país. Fiz minhas malas, expliquei a situação para o bebê - isso é muito importante, eles entendem - e pegamos um trem para nossa nova vida.
Minha irmã, que era advogada, não se conformou. Ela fez questão de tentar reverter a situação, mas o tempo passou e conseguimos um belo nada. Três meses depois, já instalada no apartamento e com o bebê em meus braços, recebi uma carta extremamente peculiar.

"Querida Daisy,


Quem lhe escreve é seu antigo vizinho Dwane. Faço-o pelo fato de ter notado algo muito estranho em sua casa alugada. Um mês depois de você ir embora, comecei a notar movimentos e luzes muito estranhas dentro da residência Observei com atenção durante algumas semanas, e os movimentos só se manifestavam à noite. Liguei para Jack e ele afirmou que não havia alugado a casa para mais ninguém e que eu estava louco. Mas juro, Daisy, por tudo, tem algo lá.
Certa noite vi uma silhueta muito alta e magra observando pela janela do segundo andar. Por favor não julgue-me um tolo, mas aquilo não parecia nada com um ser humano.
E as luzes... por Deus, todas as cores. Em algumas noites sou capaz até de escutar sons dos quais nunca ouvi em minha vida.
Achei que deveria saber, pois você e Jim moraram lá por bastante tempo.
Espero que esteja bem, você e o bebê.


Sinceramente, Dwane."

Li a carta milhares de vezes, muitas delas para minha irmã, que acusou meu vizinho de exageradamente criativo.

Por algum motivo eu acreditava nele.
Depois de refletir por um tempo, fiz uma mochila e deixei meu filho aos cuidados de minha irmã.
Cheguei em minha antiga rua justamente ao anoitecer, o que por um lado era bom e por outro era assustador. Toquei a campainha de Dwane, cuja casa era na frente da minha. Ele ficou surpreso ao me ver, tinha quase certeza de que eu o julgaria um louco, como todos os outros.Ele me deu espaço para entrar e logo estávamos parados na frente da janela de sua sala, com binóculos e luzes apagadas.
Não demorou muito para começar.
Eu vi. Figuras anormalmente esguias circulando pela casa iluminadas de tempos em tempos por clarões inexplicáveis.
Falei para Dwane que precisava ir até lá. Agora era ele que me acusava de louca, mas, por mais que se esforçasse, não mudaria minha decisão. Portanto decidiu, com muito receio, me acompanhar.


Atravessamos a rua a passos trêmulos, Dwane resmungando em meus ouvidos que deveríamos desistir e chamar a polícia. O ignorei.
Alcançamos a varanda e toquei a campainha. Como esperado, ninguém nos atendeu. Abri a porta devagar, estranhando o fato de estar destrancada. A escuridão nos impediu de início de reconhecer qualquer coisa, porém quando atingimos a cozinha, Dwane emitindo gemidos e resmungos, um clarão nos cegou. Só tive tempo de ver, por alguns segundos, todos em pé nos olhando com seus grandes olhos escuros, de uma altura superior a dois metros.

Acordei três dias depois no hospital local, sendo informada de que Dwane Foster encontrava-se desaparecido desde aquela noite perturbadora.


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